ResearchGate Logo

Discover the world's research

  • 20+ million members
  • 135+ million publications
  • 700k+ research projects

Join for free

Recensões

a)

explicitação das vantagens relativas e das dificuldades resultantes da

opção por modelos de formação inicial com maiores ou menores

componentes científicos generalistas, de especialização, de experiência

prática (características e função social do ensino politécnico e

universitário);

b)

níveis

de

autonomia científica e tecnológica dos engenheiros e aparelho

de Estado/empresas portugueses perante nações mais desenvolvidas;

c)

relações com

as

principais associações empresariais/patronais e com

os

grandes grupos económicos, hegemónicos nas décadas

de

cinquenta a

setenta;

d)

ligações internacionais (escolas, associações, empresas e organismos

oficiais, técnicos individualmente considerados) e concorrência por

parte

de

engenheiros estrangeiros;

e)

actividade governativa -política em geral -de engenheiros,

empenhamento da superação

de

bloqueios em termos

de

higiene e

segurança no trabalho, acidentes e doenças profissionais, nível de vida e

formação escolar/profissional dos trabalhadores;

f) rivalidade com economistas e gestores, participação nos debates dos

anos sessenta e setenta sobre manutenção

do

regime ditatorial/das

colónias e do corporativismo proteccionista ou integração na CEE,

adesão à

EFf

A e reprodução

ou

alteração das estruturas sócio-

económicas, de uma determinada especialização produtiva e do fluxo

emigratório.

João Paulo Avelãs Nunes

Daniel GOLEMAN, Trabalhar com a Inteligência Emocional (trad. do

inglês), Lisboa, Temas e Debates, 1999, 387

p.

Em 1892, Sir Francis Galton levou a cabo a primeira tentativa de

classificar

os

homens «de acordo com

os

seus dotes naturais». Ainda em finais

do

século XIX, um psicólogo francês, Alfred Binet, criou a primeira medida

prática para medir a inteligência, tentando medir, inicialmente,

as

habilidades

sensoriais e motoras e, posteriormente,

as

funções cognitivas. Alguns anos

mais tarde, Charles Spearman, da Universidade de Londres, decidiu definir a

inteligência objectivamente e também tentou medi-la. Para ele, a inteligência

consta de um factor geral e de uma série

de

habilidades especiais. O factor

geral (G) é o motor que energia

às

diferentes habilidades e a que ele

chamou Habilidade Cognitiva Geral; esta viria a denominar-se, mais tarde,

294

Recensões

Quociente Intelectual (Q.1.), obtido através de testes específicos. Durante

várias décadas, diversos autores interessaram-se pela avaliação do Q.I.

(Guillford, Thurstone, Wechsler, etc.), considerando-o um meio de prever o

futuro (in)sucesso escolar e/ou profissional.

O presente livro de Daniel Goleman, bem como a sua obra anterior,

publicada

em

1995, intitulada Inteligência Emocional, partem da ideia de que

o

Q.1.

e o conhecimento técnico não são garantia de sucesso profissional. Pois,

de acordo com os resultados de investigações efectuadas

em

diversos tipos de

organizações, este autor pôde concluir que os profissionais mais

bem

sucedidos não são os que apresentam maior grau de inteligência ou

conhecimento académico. Mais do que o Q.I. ou o conhecimento

especializado, hoje o que determina o êxito no emprego é o que o autor

denominou de Inteligência Emocional. Este novo conceito, para além de estar

a exercer considerável influência a todos os níveis na área comportamental,

acabou por consolidar uma nova forma de pensar as relações humanas nesta

viragem de milénio.

no início dos anos 80, Howard Gardner falava da "inteligência

múltipla", entendendo-se esta como a sinergia entre a sabedoria cognitiva e a

sabedoria emocional. Uma mistura própria das pessoas com sucesso.

Salienta-se, entretanto, que o actual mercado de trabalho -com a sua

estrutura menos hierarquizada e posições menos estanques -impôs novos

parâmetros de avaliação. Mais do que nunca, auto-confiança, auto-controlo,

capacidade para comunicar e influenciar, iniciativa e empatia, capacidade de

trabalho

em

equipa e flexibilidade são algumas das qualidades fundamentais

no currículo de um bom profissional e, essencialmente, de um bom líder.

Como demonstra o autor nas suas obras, nós possuímos potencial para

aumentar a nossa inteligência emocional -

em

qualquer fase

da

nossa carreira

-e, neste sentido, não deixa de fornecer importantes linhas de orientação.

O autor considera a Inteligência Emocional como a "capacidade para

reconhecermos os nossos sentimentos e os dos outros, para nos motivarmos a

nós próprios e

para

gerirmos as emoções

em

nós e nas nossas relações"

(p 323). Dada a sua importância, D. Goleman,

na

obra que aqui analisamos,

apresenta

um

guia para o uso e o desenvolvimento da inteligência emocional,

tanto nas nossas relações interpessoais, como a nível profissional. Este estudo,

que se aplica tanto a indivíduos, como a grupos ou empresas, toma-se mais

oportuno quando se compreende que, ao contrário do Q.I., que se mantém

relativamente estável ao longo da vida, a inteligência emocional é algo que

evolui, podendo, ainda, aprender-se a aperfeiçoá-la. O livro apresenta,

com

clareza, junto às informações científicas,

um

amplo leque de exemplos e

depoimentos que ilustram as suas conclusões.

295

Recensões

Assim, na obra Trabalhar com a Inteligência Emocional, o autor revela

as

competências que distinguem indivíduos com sucesso e procura "proporcionar

algumas pistas práticas para os desafios pessoais e profissionais cruciais que

todos nós enfrentaremos no século que se aproxima" (p. 23).

A obra é composta por cinco partes. Na primeira, constituída por três

capítulos e denominada de Para além das Habilitações, o autor parte da

seguinte ideia: "As regras do trabalho encontram-se em mutação"

(p.

11)

e,

actualmente, o

Q.1.

não determina o (in)sucesso do indivíduo em contexto

organizacional, mas sim a aquisição

de

competências ditas emocionais

(pessoais e sociais) como: autoconsciência (conhecimento dos nossos estados

internos, preferências, recursos e intuições); auto-regulação (capacidade

de

gerir os próprios estados internos, impulsos e recursos); motivação (tendências

emocionais que orientam

ou

facilitam o cumprimento de objectivos); empatia

(consciência dos sentimentos, necessidades e preocupações dos outros);

competências sociais (capacidade de induzir respostas favoráveis nos outros).

Estas são, entre outras,

as

mais importantes temáticas que o autor desenvolve e

concretiza nas restantes partes do livro.

Na segunda parte, denominada de Autodomínio, que também engloba três

capítulos, o autor começa por esboçar

e,

posteriormente, concretizar a ideia

de

que a intuição, para a qual utiliza a metáfora "leme interior", possui um papel

importante na formação de impressões e no processo de tomada de decisão.

"Os gestores

de

crédito têm de sentir

se

um negócio pode correr mal, mesmo

que

os

números se apresentem óptimos; os executivos têm de decidir

se

um

determinado produto valerá o tempo e o dinheiro necessários para o

desenvolver;

as

pessoas têm de fazer uma aposta bem informada acerca

de

quem, num grupo

de

candidatos para um determinado lugar, possui a melhor

química num grupo de trabalho. Todas essas decisões exigem a capacidade

de

introduzir no processo

de

tomada

de

decisões o nosso sentido intuitivo daquilo

que estã certo e do que está errado"

(p.

60 e

61

).

Ainda nesta parte, o autor chama a atenção para a importância da aquisição

de uma competência - a autoconsciência

-,

base fundamental e vital de três

competências emocionais: autoconsciência emocional (reconhecimento de

como

as

nossas

_emoções

afectam o nosso desempenho e a capacidade de usar

os nossos valores como guia da tomada de decisões); auto-avaliação exacta

(sentido imparcial das nossas forças e dos nossos limites pessoais, uma visão

clara de onde necessitamos

de

melhorar e a capacidade de aprender com a

própria experiência); autoconfiança (coragem que resulta da certeza nas

nossas capacidades, nos nossos valores e nos nossos objectivos).

Refere ainda a necessidade de autodomínio, ou seja,

"a

capacidade de

manter

as

emoções e os impulsos de ruptura sob controlo" (p.90). E finaliza

esta parte com alguns exemplos, teoricamente fundamentados, acerca do

296

Recensões

processo motivacional, de pessoas que procuram dar o seu melhor, qualquer

que seja a tarefa a que

se

dediquem.

Numa terceira parte do livro, intitulada Aptidões Pessoais, o autor começa

por salientar a importância do autoconhecimento nas relações interpessoais e,

nomeadamente, no desenvolvimento da capacidade de empatia, pois

"A

chave

para conhecer o terreno emocional dos outros reside na familiaridade íntima

connosco próprios"

(p.

143). Adiante, ainda, o autor refere que o "pré-

-requisito da empatia é a autopercepção, o reconhecimento dos sinais viscerais

dos sentimentos, emitidos pelo próprio corpo". É que, "entre

os

consultores,

por exemplo, os mais eficientes e empáticos eram os que melhor se

sintonizavam com

os

sinais da emoção do seu corpo -algo essencial em

qualquer função em que a empatia desempenha um papel

de

relevo, do ensino

às

vendas e à gestão"

(p.

144).

O autor, ainda nesta parte, tece algumas considerações sobre factores

de

conflito e estratégias de negociação e mais uma vez salienta que, no processo

de

negociação, a sensibilidade e o controlo das emoções são importantes.

Neste contexto, chamamos a atenção para a seguinte passagem: "Aqueles que

dominam a arte da negociação compreendem a natureza emocionalmente

carregada

de

qualquer negociação. Os melhores negociadores detectam que

pontos têm maior importância para a outra parte e graciosamente cedem nesse

ponto, pressionando para concessões em pontos que não encerram um peso

emocional tão grande. E para isso é preciso possuir empatia"

(p.

187).

A Liderança é outra das temáticas tratadas, tendo como base que "Liderar é

transmitir energia";

D.

Goleman refere algumas competências que um líder,

para ser aceite como tal, deve possuir: capacidade de percepcionar os

sentimentos ocultos do grupo; liderar pelo exemplo: "as pessoas não

prestam atenção aos líderes como têm tendência para os imitar"

(p.

194);

capacidade de comunicar emoções de forma convincente; saber quando

se

deve usar um certo grau de dureza -

"A

liderança exige uma tomada

de

decisões firme. Alguém tem de dizer

às

pessoas o que devem fazer, mantê-las

vinculadas

às

suas obrigações, ser explícito sobre

as

consequências"

(p.

197),

ou seja, ser assertivo; e, por último, ser catalisador de mudança,

que "hoje

em dia,

as

organizações estão a baralhar

de

novo, alienar património, fundir,

adquirir, diminuir.

as

hierarquias, tomando-se globais. A aceleração da

mudança nos anos 90 fez da capacidade de liderar uma competência em

ascensão. Nos estudos anteriores, sobretudo os efectuados nas décadas de 70 e

80, ser um catalisador da mudança não era altamente valorizado. Mas, à

medida que nos aproximamos do novo milénio, um número cada vez maior de

empresas está a apostar nas pessoas que são capazes de liderar um processo de

mudança"

(p.

202).

297

Recensões

Na quarta parte do livro, desenvolve-se

Um

novo Modelo de Aprendizagem,

em dois cápítulos, em que o autor cita vários exemplos

de

como a inteligência

emocional pode ser desenvolvida e apresenta

um

esquema

de

"Formação em

Competência Emocional"

(p.

259

a

261

).

Realça, ainda, que ao longo

do

processo

de

Formação deve ter-se em consideração a diferença crucial entre conhecimento

declarativo e conhecimento executivo. O primeiro reporta-se

às

estruturas que não

se

esgotam em si mesmas,

que comportam

um

movimento

de

referência a algo

que lhes é exterior: designam ou representam coisas

do

mundo

e,

enquanto tal,

são

um

"saber o que"; o segundo reporta-se a procedimentos

e,

enquanto tal,

são

um

"saber-fazer", que tomam corpo

na

sua execução. Neste contexto, o autor reforça,

ainda, a ideia da necessidade

de

repensar a avaliação

da

Formação.

E,

neste

sentido, "recomenda": "primeiro estabelecer métodos sólidos

de

medição dos

resultados, em especial para

as

competências que constituíram objectivos

de

treino

e incluir critérios

de

medição

de

desempenho profissional.

Os

melhores programas

usam medições antes e depois

da

formação, mais

um

acompanhamento a longo

prazo, ( ... ) e grupos de·controlo ( ...

).

E

se

um

programa falha, essa informação

deve ser usada para melhorar a fornada seguinte

de

formação"

(p.

285).

A quinta e última parte do livro, denominada de Organização

Emocionalmente Inteligente, é, também, constituída por dois capítulos. O

autor entende que uma "organização emocionalmente inteligente precisa de

resolver quaisquer disparidades entre os valores que proclama e aqueles com

que vive" (p.289). E, de acordo com isso, apresenta alguns procedimentos para

o aumento da motivação, nomeadamente a clarificação dos valores, do espírito

e

da

missão da organização, pois "trabalhar para uma empresa que mede o seu

êxito da forma mais plena de sentido - e não apenas pelos seus resultados

financeiros -constitui

em

si um estimulante do moral e da energia" (p. 289).

Na

opinião

do

autor, a sobrecarga de trabalho, a falta de autonomia, os baixos

salários, a perda de contactos/isolamento crescente no trabalho, as

desigualdades/injustiça e os conflitos de valores assumem-se como os

principais defeitos das práticas empresariais. Estas práticas de gestão

incorrectas conduzem normalmente ao alheamento, à perda de motivação, à

falta de entusiasmo e à perda de produtividade dos colaboradores de uma

organização.

Assim, uma organização inteligente assume-se como a capacidade para

resolver problemas, vencer desafios ou criar produtos valorizados e isto

emerge da complexa inter-relação de pessoas, cultura e papéis no seio de uma

organização.

Em jeito de conclusão, gostaríamos de referir que o autor escreve sobre um

assunto que a maioria de nós considera que conhece bem -maturidade, saúde

emocional,

"ser

adulto" - e mostra como estas qualidades, que ajudam a

formar a inteligência emocional, afectam o nosso desempenho no trabalho.

298

Recensões

Tomando por base dados convincentes, D. Goleman apresenta, num texto

claro, simples e objectivo, questões que vão obrigar a repensar a forma de

conceptualizar e

de

gerir uma empresa, no novo milénio.

Estamos, assim, em presença de uma obra que pode ser vista como um

importante instrumento de reflexão sobre os novos cenários profissionais que

se esboçam. Anos turbulentos, em que

as

perspectivas para o futuro

dependerão não do conhecimento académico/especializado mas também de

sabermos conduzir os nossos relacionamentos, com mais arte.

Célia Ribeiro

299

ResearchGate has not been able to resolve any citations for this publication.

ResearchGate has not been able to resolve any references for this publication.